segunda-feira, 22 de março de 2010

Homo Praius


Cientistas americanos _ eles, sempre buscando explicações inúteis para aparecer no Fantástico _ estudaram o fenômeno comportamental dos homens na praia. A pesquisa, coordenada pela CIA (Centro da Imbecilidade Americana), levou mais de dez anos e gastou, em dólares, cerca de dois bi. E só não recebeu mais recursos mas porque outro Bi, o Bush, precisou comprar mais armas e invadir um país qualquer do Oriente.

Claro, que produzisse em larga escala fanáticos barbudos com nomes de duplo sentido e, fundamentalmente, petróleo.

As descobertas foram interessantes para quem não se interessa por nada que preste.

Fator Freudiano:

·          O homo praius, ao vestir apenas sungas, libera sua libido, agora protegida apenas por um pano, não dois ou mais. Assim, contrariando Darwin ao dizer que o homem não vem do macaco, mas fundamentalmente da cobra (explicação do fetiche animal que cada macho humano tem por si mesmo, narcisista de carteirinha e dono do pedaço _ maior pedaço é dele sempre), as células de racionalidade neurológica, já confusas, perdem espaço e impelem todos os sentidos atrás de bundas passantes, ignorando as frágeis, porém sempre desconfortáveis, ondas de valores morais e conjugais. Principalmente, a noção do ridículo.

Fator Edipiano Platônico:

·          Saudoso do calor materno do colo, ao despir cada mulher que por ele passa e que tenha seios fartos em seu cotidiano urbanóide, o homo praius entre em choque quando assiste a um desfile mamóide exuberante a cada segundo na areia. Concretização do sonho, até porque carnaval é uma vez ao ano e consegue enjoar, traumaticamente. Assim, ultrapassada a ponte que liga o imaginário ao palpável, o homem, perdido, cai de boca, ou abre a boca pra dizer besteira. Nestes casos, é comum perde um dente.Ou mais.

Fator Paraíso Libera-geral:

·          Farto do regramento asfixiante urbanóide, o homo praius vê todo mundo quase peladão e, entorpecido por sua naturalidade primata alcansável, faz um corte em 99% dos artigos de todos os códigos. Principalmente no penal e de trânsito, afinal, se até os brigadianos andam de sandália e bermuda, tá tudo dominado. Só acaba preservando alguns artigos do código civil, instintivamente, em nome da preservação de sua região glútea. Que vara de família dói.

Fator Caipirinha gelada: 

·          Acostumado a cafezinho corrido no intervalo, o homo praius ganha um alucinógeno passageiro disfarçado dentro de um abacaxi com canudinho. Refrescante, este tipo de droga estimula seu consumo repetido, na combinação carbônica com o suor exalado pelo calor do sol. Impotente e esburacado, ozônio não segura mais a peteca, e o efeito torna-se mais rápido. O efeito destrutivo não está, na verdade, nas palavras que o homem diz às mulheres de biquíni, após ingerir determinada dose da droga. Está no fato de que elas nunca entendem muito bem o que ele diz.
Efeito Minhoca Molhada:

·          O homo praius não pega nem barata em sua vida urbanóide, de medo. Doenças, violência, mutações, essas coisas. Na praia, entretanto, molha a minhoca na água salgada, põe óculos escuros até com tempo nublado e pega a vara, exibido-a em riste como um obeso louva-a-deus gladiador na areia. Anuncia à arena, ou melhor, à areia, que o que cair na rede é peixe. Pega nada. Quando muito, algum refugo. Muitos saem do verão estudando processos contra alegação de paternidade. Sabem como é. Piranhas, piranhas.

Fator Direitos da Mulher:

·          Na primeira metade do século passado, a sociedade patriarcal previa apenas rolos de massa arremessados contra a cabeça do homo praiusquando este chegava em casa, à milanesa e com marca de batom, contando história de uma luta contra siris gigantes nas dunas. O batom é que dava problema, naquele tempo o lixo não era equiparado ao status da areia como hoje. Com o advento do cartão de crédito e da liberdade feminina, não adianta nem reclamar. Que se bobear elas também vão lá, enfrentar tubarões e surfistas loiros, com saídas de banho sensuais, biquínis última moda minúsculos e o endereço do cirurgião plástico.

Oscar Bess

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Felipe Vieira disse...

Texto muito bala de Oscar Bessi (http://criaturascronicas.blogspot.com)...

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